Fonte desta notícia: GIFE EM 05/07/2021
Para 86% dos brasileiros, o progresso do Brasil depende da diminuição das desigualdades entre ricos e pobres. Esse é um dos principais achados da terceira edição da pesquisa Nós e as Desigualdades, realizada pela Oxfam Brasil e Instituto Datafolha.
“A intenção é fornecer subsídios para o debate público sobre redução de desigualdades. Nós temos como lema ‘Mais justiça, menos desigualdade’. Entendemos que é impossível alcançarmos um patamar de sociedade justa com toda essa disparidade”, explica Jefferson Nascimento, coordenador de pesquisa e incidência em justiça social e econômica da Oxfam Brasil.
Para o coordenador, a pesquisa pode ajudar, inclusive, gestores públicos, sociedade civil e setor privado com elementos e dados para compreensão do desejo da população e da ressonância do debate entre as pessoas.
Como reduzir as desigualdades?
Jefferson explica que as três edições da pesquisa (2017, 2019 e 2020) deixam claro que o brasileiro relaciona a redução das desigualdades (econômicas, sociais, regionais e de gênero e raça) ao progresso do país. Entretanto, o levantamento de 2020 traz dados novos sobre de quem é a responsabilidade.
Para 85% dos entrevistados, é obrigação dos governos diminuir a diferença entre muito ricos e muito pobres. “Temos debates e estudos, como o do FMI [Fundo Monetário Internacional], que reforçam a necessidade de o Estado ser esse ator que proporciona redução de desigualdade, o que se dá por meio de políticas públicas”, aponta Jefferson.
O aumento de políticas públicas, entretanto, demanda mais investimentos, que, por sua vez, vêm dos impostos pagos pela população, trazendo outro tema à mesa: o aumento da tributação. 84% dos entrevistados concordam com o aumento de impostos de pessoas muito ricas para financiar políticas sociais, ante 77% em 2019 e 71% em 2017.
“Nessa pesquisa, tivemos, pela primeira vez, a maior parte da população – 56% – concordando com o aumento de impostos para financiar políticas sociais, um aumento de 25 pontos percentuais em relação a 2019. Nesse caso, houve uma reversão da tendência: em 2017, 75% dos entrevistados discordavam do aumento de impostos. Ao longo das três edições, tivemos um avanço de 32 pontos percentuais nessa compreensão. É um dado muito importante que vai de encontro com a narrativa que vemos na mídia de forma geral, de que não há apoio popular para o aumento de impostos”, afirma o coordenador.
Os dados conversam com uma das pautas mais caras à Oxfam, que é o Brasil alcançar um sistema tributário justo e progressivo, isto é, aqueles que ganham mais devem pagar mais impostos dos que os que ganham menos.
Machismo e racismo
Machismo e racismo também foram temas onde houve aumento da percepção social. Para 76% das pessoas, a cor da pele influencia a contratação por empresas (contra 71% em 2019); para 84%, influencia a decisão de uma abordagem policial (81% em 2019); e 78% concordam que a justiça é mais dura com pessoas negras (71% em 2019).
O levantamento questionou ainda se as pessoas concordam com a afirmação de que negros ganham menos por serem negros. Ao passo que a concordância aumentou ao longo das edições da pesquisa (46% em 2017, 52% em 2019 e 58% em 2020), a discordância também foi diminuindo: 50%, 45% e 39%.
O mesmo se repete quando é aplicada a lente de gênero: 67% das pessoas concordam com a afirmação de que mulheres ganham menos porque são mulheres, um aumento de dez pontos percentuais em relação a 2017.
Educação e saúde
Quando o assunto é educação, 22% dos respondentes colocaram educação como o principal aspecto para uma vida melhor, seguida de fé religiosa. Trata-se de um cenário inverso ao obtido em 2019, quando a fé ocupava o primeiro lugar. A comparação deixa claro que está aumentando a percepção social sobre a importância da educação. Entretanto, ao mesmo tempo, 52% dos entrevistados não acreditam que a educação de crianças pobres equalize suas chances de uma vida bem-sucedida.
Realizada em meio à pandemia, a pesquisa também procurou entender o que os brasileiros pensam quando o tema é saúde. Para 62% dos entrevistados, ter acesso ao direito à saúde é uma das três principais prioridades para uma vida melhor, ao lado de educação e fé religiosa. Além disso, 73% defenderam a universalidade para atendimento em postos de saúde e hospitais.
A pesquisa pode ser acessada na íntegra neste link.